Como quem ouve uma melodia muito triste, recordo a casinha em que nasci, no Caleijão. O destino fez-me conhecer casas bem maiores, casas onde parece que habita constantemente o tumulto, mas nenhuma eu trocaria pela nossa morada coberta de telha francesa e emboçada de cal por fora, que meu avô construiu com dinheiro ganho de riba da água do mar. Mamãe Velha lembrava sempre com orgulho a origem honrada da nossa casa. Pena que o meu avô tivesse morrido tão novo, sem gozar direitamente o produto do seu trabalho.
E lá toda a minha gente se fixou. Ela povoou-se das imagens que enchiam o nosso mundo. O nascimento dos meninos. O balanço da criação. O trabalho das hortas e a fadiga de mandar a comida para os trabalhadores. A partida de papai para a América. A ansiedade quando chegavam as cartas. (p. 6)
É assim tudo na nossa vida_ a casa, as mobílias, as recordações, os nossos interesses _ fazia uma reportagem sentimental que dava a papai uma presença quase física no meio de nós. Anos depois voltou com licença de seis meses. Quando já papai estava outra vez na América foi quando que mamãe teve Nanduca.
Chegavam cartas e retratos. Nhô Roberto Tomásia ia sempre receber as suas mantenhas . Ficava admirando os retratos de papai, vestido de casimira e com uma grande corrente de relógio atravessando o colete:
- António Manuel está um americano perfeito…
Quando Tuta de Melo esteve na ilha, mamãe foi tirar retrato a Nanduca para papai conhecer o seu codê . (Baltasar Lopes, Chiquinho , p. 6 e10)
O POETA DO MÊS, Osvaldo Alcântara ou Baltasar Lopes da Silva, é uma espécie de patrono dos professores cv, tanto que o dia 23 de Abril, seu dia,foi consagrado aos docentes crioulos.
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